"... faltam-me as vísceras de fora quando as palavras se deixam antever. " in Memórias Internadas

25.4.09

25 de Abril

.
Estava a escrever um texto, mas o que vem a seguir, tira-me o folgo.

" Ás vezes o construtor detém-se. A obra afigura-se-lhe um montão de ruínas e, exausto, nem sequer consegue levantar uma pedra. Recorda então o fulgor fresco de uma manhã inicial, a ligeireza dos movimentos ascensionais, a ingenuidade de uma visão aberta e consonante, as perspectivas puras que se projectavam sobre um mar fascinante na sua lenta e azul tranquilidade. Algo de subtil e precioso germinará ainda sob a massa confusa das sensações em que o ser se asfixia e imobiliza? A vivacidade de uma festa no deserto poderá ainda actualizar a festa de outrora, a festa do princípio de todos os princípios? O construtor é neste momento o ignorante supremo na sua nuvem obscura, trabalhado pelas ondas negativas da desolação. Mas este momento, por negativo que seja, é já o despertar para a necessidade de construir a partir da resistência dos materiais opacos da construção e do seu peso maciço em que está petrificada a energia do ser. "

de António Ramos Rosa " O Aprendiz Secreto "

1 comentário: