"... faltam-me as vísceras de fora quando as palavras se deixam antever. " in Memórias Internadas

23.4.09

KITSCH AGRÍCOLA

Quando posso e preciso de confortar o estômago e um café, vou à Casa das Queijadas, aqui em Porto Alto. A variedade e qualidade são interessantes. Para lá chegar passo quase sempre por uma rua que até ontem nada tinha de especial, para além de um condomínio fechado com todas as coisas próprias de quem pensa que vive bem isolado e de forma prestigiosa...etc.
A caminho, parei para ver uma pequena laranjeira, carregada de frutos, com uma cova perfeita para a rega, muito bem atada a uma estaca que serve de guia para medrar direitinha, tudo muito bem feito. Sim senhora, bom trabalho! Vou fotografar para poder mostrar como é que as coisas se fazem à séria. Puxo da máquina, enquadro, faço zoom...não queria acreditar! Desvio a máquina, aproximo-me...e a coisa é de plástico. Até na agricultura... Fotografo, mas por uma razão diferente da inicial. Enquanto caminhava para a queijadinha, a imagem já não me saía da cabeça, bem como as razões que podem levar uma pessoa a trabalhar tanto para tentar enganar-se a si e aos outros. O agricultor Kitsch não come os frutos, os outros não os podem roubar, e assim não está certo! Pensei logo no aproveitamento artístico da coisa; um pomar com a multiplicação do objecto e cova incluída...a instalação estava feita e a justificação conceptual e chocante do caminho da arte e agricultura de mãos dadas, land art...e as leituras políticas e sociais, etc...Logo a seguir a ideia esfumou-se !!! Eu não sou capaz de fazer isto e não posso pedir ao agricultor Kitsch, porque ele " plantou uma " para não ter trabalho. Tenho pena!! A escala de um pomar com um hectare destas coisas ficava brutal!!!

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