"... faltam-me as vísceras de fora quando as palavras se deixam antever. " in Memórias Internadas

24.11.10

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preciso de encontrar-me
com o mar
na longa linha horizontal
de fusão
e nos meus pés
quando se dá
ao chão que o agarra

preciso de uma mão
que me leve
para conversarmos todos

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19.11.10

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atravessa-me um silvo
inquietação pura latejante
não sei se pela impossibilidade
da pele ou pele que não é minha
nem as trombetas celestiais
que os anjos sopram
em andamento divino
têm força pacificadora

só a ceia que me espera
permite que durma sobressaltado
e descanse no mel que tenho
agarrado à boca
que nenhuma escova
pode disfarçar

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17.11.10

A primeira postagem, "click neural", iniciador do blog ( etiquetas a primeira ) começa com "O tempo não espera pela vida" e acaba com " que coisa, a vida é tempo". A assência do conceito permanece, embora se possa questionar a significação de tempo.
Entendo que cada um tem o seu tempo, tem a sua vida única, preciosa e que não lhes podemos pedir para saltem de uma vida para outra, sem tempo para enfrentarem os medos da mudança e mais importante, limparem a vida anterior e ter menos dúvidas sobre a que vem.
Tenho a sorte, de ter percebido que estou inteiro, de peito aberto, desejoso, com fome do que está para vir. Não vou saltar de olho vendados! Entendi que tudo o que me espera, a intensidade, a suavidade, o mel, o polén, o algodão, quando acontecem, o devemos querer até ao limite da elasticidade que o tempo pode suportar, sem quebrar.
Tenho a idade que me permite "saber", que desperdicei muita vida em pouco tempo, o que não é nada de especial, mas conta para alguma coisa. Permite-me ainda saber que quando nos acontecem coisas bonitas, únicas, arrebatadoras o que pensamos estar a perder, ou ter perdido, encontramos como que por golpe mágico e cristalizamos muito do que está para vir.
Vou congelar o meu tempo, embora contrariado, para acertarmos os nossos relógios, relativizando o "click neural" iniciador. Como não consigo hibernar, nem quero, a vida está a ser vivida em "jet lag".

11.11.10

10.11.10

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vou ficando
e o mel que sorvo
estala na boca
lentamente
em cada papila

já não é só mel
o gosto arde
e não se vê
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6.11.10

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as ruínas desenhadas
no espelho
são escombros agarrados
a um tempo
que o sábio correr dos dias
está a limpar

e o resto
preguntei ao espelho

vai encontrado

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