"... faltam-me as vísceras de fora quando as palavras se deixam antever. " in Memórias Internadas

27.1.13

REMORSO POR QUALQUER MORTE - JORGE LUIS BORGES


Já livre da memória e de qualquer esperança,
quase futuro, ilimitado, abstrato,
não é um morto, o morto: ele é a morte.
Como esse Deus dos místicos,
de Quem devem negar-se os predicados,
o morto ubiquamente alheio
é só a perdição e ausência do mundo.
Roubamos-lhe tudo,
não lhe deixamos uma cor nem uma sílaba:
é este o pátio que os seus olhos já não partilham
e aquele o passeio onde perscrutou a sua esperança.
Até o que pensamos
poderia ele pensar;
repartimos por nós como ladrões
todo o caudal das noites e dos dias.


Fervor de Buenos Aires  ( 1923 )


JORGE LUIS BORGES

Obra Poética Vol. 1
Trad.: Fernando Pinto do Amaral  .  Quetzal  setembro 2012

1 comentário:

  1. NADA DEMORA

    gostava de ter um comentário
    para completar ou complementar
    uma leitura para um poema

    dai até ter a ideia de escrever
    nada demora nesta Hora

    onde o H não é de hidrogénio!
    Assim

    DEMORA NADA

    a deflagração é um flagrante
    desejo de poder imitar
    emitir do desejo

    a hora da ideia nesta Hora
    sem demora escrita

    onde meu Homem me visita!
    Mim

    Abraço, a_braços!!

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